Dia dos Pais
Um mergulho na paternidade
Neste 14 de agosto, dedicado a eles, o Diário Popular traz duas histórias de quem se dedica ao processo de ensinar e aprender a ser pai, todos os dias
Carlos Queiroz -
"O problema com a paternidade é que ninguém te ensina, não tem curso, não tem prova, não tem nada, você aprende na marra e parece que todo mundo sabe ser pai, menos você". A primeira fala do ator Lázaro Ramos interpretando Tom no filme Papai é Pop parece descrever muito bem a paternidade para alguns pais, sejam eles de primeira viagem ou não.
Para o engenheiro civil Charles Schneider, 35, este domingo é um dia de comemoração em dobro: além de celebrar o Dia dos Pais, ele também comemora o aniversário de Helena, que está completando dois anos de idade. Pai de primeira viagem, o nascimento da pequena foi a realização de um desejo profundo. "Era um sonho que eu sempre tive".
Com a chegada de Helena, o engenheiro conta que já sabia das grandes transformações que ocorreriam na sua vida, entretanto, para ele, todas as mudanças foram significativas e positivas, até mesmo as tarefas mais rotineiras, como trocar fraldas e levar para a escola. "Eu nem sei mais o que é a minha vida sem ela. Eu troquei de emprego, na época, para ter mais condições de ficar com a minha filha. A minha rotina que antes dependia só de mim, tomar meu café e sair, mudou totalmente. Agora, antes de sair, eu preciso arrumar ela, levar na escola. A minha vida como um todo mudou, mas para melhor".
Aproveitar bons momentos ao lado dos amigos é uma das maneiras que Schneider tem de apreciar a vida e há dois anos ele ganhou mais uma companhia para os churrascos e os jogos de futebol. "Ela participa de tudo comigo, desde os jogos do nosso time, eu chamo assim, até dos churrascos com os meus amigos". Para o engenheiro, Helena veio para agregar em todas as partes de sua vida.
Participar de verdade
"Ser pai é realmente participar da rotina da criança". Essa é a definição de Schneider sobre a paternidade. Apesar de ter um ótimo pai, ele explica que na cultura em que foi criado e que, ainda vigora, a criação dos filhos é dividida por elementos que devem ser do papel de mãe e outros do pai. Ele ressalta a importância dos pais estarem presentes, participando de todos os cuidados e componentes da vida de um filho.
"Não é somente aquela rotina boa, como levar na pracinha, brincar, mas participar de verdade de cada momento. Eu faço questão de dar banho nela todos os dias, de trocar fralda. É o mínimo que qualquer pai deveria fazer. O meu sempre foi excelente, mas parece que algumas coisas eram função da mãe. Ela que troca fralda, o pai não dá banho. Isso está ultrapassado".
Estar presente em todas as ocasiões, inclusive nas corriqueiras, aproxima ainda mais o filho dos pais, segundo o engenheiro. "São momentos especiais tanto quanto os outros", afirma.
Paixão de pai para filha
A estudante de Design Gráfico, Carolina Valverde, 19, anda de skate desde o início da infância. A paixão pelo esporte começou cedo, graças ao exemplo que teve em casa: o seu pai. "O que o pai mais gosta de fazer na vida é andar de skate e eu acabei crescendo no meio". O artista plástico Fidélis Valverde, 59, montou o primeiro skate para a filha quando ela tinha apenas cinco anos.
Devido ao trabalho dos pais ser feito em um ateliê em casa, Carolina cresceu passando os dias brincando com arte ao lado dos dois. Essa proximidade foi essencial para a sua formação como pessoa, influenciando inclusive na escolha da carreira. "Os dois são artistas plásticos. Eles sempre fizeram seus próprios horários de trabalho e eu passava o dia inteiro no ateliê junto. Era brincando com pintura e desenho. Meu pai tem uma fábrica de skate e as madeiras viravam brinquedos para mim e ele sempre apoiando as loucuras que eu fazia", conta.
Com sete anos, Carolina começou a se aventurar no mundo da costura. Hoje em dia, costura a maioria das roupas que usa. E isso foi possível por causa da motivação e investimento do pai. "Ele está sempre me motivando em tudo. Se não fosse o apoio quando eu errava e acertava, eu não estaria costurando como faço hoje", aponta.
Exemplo, essa é a palavra que define Fidélis para Carolina. Ela diz ser grata por ter uma figura paterna muito presente em sua vida, que além de seguir e poder contar para todos os momentos, também deu a ela os ensinamentos que a tornaram uma pessoa independente. "Eu me garanto sozinha porque ele me ensinou", conclui.
Fases diferentes e um tanto de descoberta
Carolina é a caçula de Fidélis. Além dela, ele tem outros dois filhos, Nicolas de 35 anos e Yuri de 33. A paternidade na vida do artista plástico teve diferentes fases. Paulista, a chegada dos primeiros filhos foi em São Paulo, quando ainda estava na casa dos 20 anos; o primogênito veio aos 24 e o do meio aos 26.
Ele conta que naquela época a vida era conturbada, os problemas no relacionamento com a primeira esposa resultaram em um divórcio quando Nickolas e Yuri ainda eram crianças pequenas. Além disso, a escassez financeira dificultava ainda mais a vida. Fidélis começou a trabalhar em um emprego que demandava que viajasse constantemente.
Em razão de todas essas questões, ele não esteve presente na vida dos filhos como gostaria. "Lá [em São Paulo] era outra época muito diferente, uma vida diferente também, problemas de relacionamento, falta de grana", comenta.
Já Carolina chegou quando Fidélis tinha 40 anos. Ele explica que morando em Pelotas a fase era diferente e devido às melhores condições, conseguiu ser para ela um pai que não pôde ser para os dois primeiros filhos. "Em Pelotas, eu consegui ser muito mais presente com ela do que com eles e essa paternidade aqui foi um alicerce", explica.
A base de ser um pai presente e ter uma filha sempre participativa, seguindo o seu exemplo, fez Fidélis Valverde ter o desejo de retornar para um antigo empreendimento relacionado ao skate. "Foi por causa dela que tive vontade de voltar a fabricar shape, por exemplo, que era uma paixão minha lá do anos 80".
Ele ressalta o orgulho imenso que sente da filha, mas pontua que isso não diminui o amor que sente pelos outros dois filhos. "Ela é uma menina virtuosa. E não que eu não tenha orgulho dos meus outros filhos, mas é que a distância e as condições nos distanciaram um pouco".
Parafrasear novamente o Tom, de Lázaro Ramos, é uma ótima forma de descrever a vida de Fidélis: "O problema com a paternidade é que ninguém te ensina".
Assista ao filme!
Para os pais e filhos amantes de filmes, a dica para este Dia dos Pais é a comédia Papai é Pop. Inspirado no best-seller de Marcos Piangers, o longa conta a história de Tom (Lázaro Ramos), um homem comum que vê a rotina mudar ao se tornar pai. Ao lado da esposa Elisa (Paolla Oliveira), ele precisa aprender na prática como cuidar da filha e, em meio a situações divertidas e emocionantes do cotidiano, apresenta uma transformação interior que conflita com a forma como a sociedade enxerga um pai presente.
- Cineflix: Sala 4 - 14h50min, 17h10min e 19h30min
- Cineart: Sala 3 - 14h
Carregando matéria
Conteúdo exclusivo!
Somente assinantes podem visualizar este conteúdo
clique aqui para verificar os planos disponíveis
Já sou assinante
Deixe seu comentário